quarta-feira, 18 de junho de 2008

Dias a cores I - Jacarandás

Li que existem cerca de 2000 jacarandás em Lisboa. São árvores peculiares cujas flores só se atrevem a mostrar-se aos primeiros calores de Maio (capricho de imigrante do sul), exibindo-se, depois, de forma ostentosa e impúdica, durante todo o mês de Junho, dominando, com a sua cor característica e intensa, as ruas, avenidas e parques de Lisboa.

(Foto: daqui)

"O nome decerto lhe foi dado por vozes quentes, tropicais. Só cantando o podemos dizer, a saborear-lhe as sílabas, prolongando a alegria da tónica: Ja-ca-ran-dáá. As flores brotam, triunfantes, decididas, a pincelar o negro dos braços nus. Dizem li-láás nos nossos olhos, na sala de espera de mais um verão. Retiram-se, discretas, quando o recorte verde das folhas se anuncia. Todos os anos as procuro nas velhas ruas da cidade. Receio que um dia lá não estejam. Quero que fiquem para contar do meu sorriso sazonal e da minha voz dizendo a quem passa: Vejam como estão lindos. Já floriram os ja-ca-ran-dáás!!"

Segundo Mário Cláudio, o grande poeta Eugénio de Andrade manteve, até ao final da sua vida, um "caso de amor" com estas árvores:

São eles que anunciam o verão.
Não sei doutra glória, doutro
paraíso: à sua entrada os jacarandás
estão em flor, um de cada lado.
E um sorriso, tranquila morada,
à minha espera.
O espaço a toda a roda
multiplica os seus espelhos, abre
varandas para o mar.
É como nos sonhos mais pueris:
posso voar quase rente
às núvens altas - irmão dos pássaros,
perder-me no ar

(Eugénio de Andrade)

(foto daqui)

Despedida
Junho chegou ao fim, a magoada
Luz dos jacarandás, que me pousava
Nos ombros, era agora o que tinha
Para repartir contigo
Um coração desmantelado
Que só aos gatos servirá de abrigo

(Eugénio de Andrade)


2 comentários:

Anónimo disse...

São lindos os jacarandás, mas como não há bela sem senão dão cabo da pintura dos nossos carrinhos quando estacionamos debaixo deles.
(já sei, sou muito prosaico)

J.

À sombra da bananeira disse...

Claro que todAs sabemos que, para para a generalidade dos homens não há beleza que se sobreponha a um artefacto com 4 rodas, movido a motor de combustão interna e com pintura metalizada reluzente.