terça-feira, 3 de junho de 2008

More human than human

Roy Batty: We're not computers, Sebastian, we're physical.

1982... 1992... 2007.
Blade Runner, neste
caso a versão final... neste caso, no grande ecrã. E no grande ecrã, o filme adquire (ainda mais) aquela dimensão que relega para um plano quase invisível a ténue fronteira que separa o que, quase compulsivamente, necessitamos de compartimentar em campos antagónicos e inconciliáveis. São-nos retirados os argumentos para discriminar o que decidimos ser diferente, mas cujas
similitudes vislumbradas nos fazem desejar tornar em algo tão infinitamente mais diferente que não nos possa tocar.

Roy Batty: I've seen things you people wouldn't believe. Attack ships on fire off the shoulder of Orion. I watched C-beams glitter in the dark near the Tannhauser gate. All those moments will be lost in time, like tears in rain. Time to die.


Ao integrar de forma exemplar todas as dualidades inerentes ao ser emocional, Blade Runner obriga-nos a uma profunda reflexão sobre o significado e os valores da vida e a fragilidade da existência. Na multiplicidade dos conflitos duais, o velho e derradeiro duelo não é o que separa o "eu" do "tu", ou o "bem" do "mal". Aqui o duelo definitivo é o que se trava pela vida, enquanto dádiva e experiência emocional suprema. Na morte, tudo se perde como as lágrimas que são derramadas sob a chuva. E é nesse duelo, em que a vida e a morte se confrontam, que o "eu" e o "tu" se surpreendem mutuamente, integrando-se numa dimensão única de frágil mas suprema humanidade.


Deckard: I don't know why he saved my life. Maybe in those last moments he loved life more than he ever had before. Not just his life, anybody's life, my life. All he'd wanted were the same answers the rest of us want. Where did I come from? Where am I going? How long have I got? All I could do was sit there and watch him die. (Blade Runner, 1982)


Sublime, profético, intemporal.
Uma visão apocalíptica do futuro que, paradoxalmente, encerra uma das mais tocantes exaltações da vida. E do cinema.

Blade Runner: What Does It Mean to Be Human?


2 comentários:

JB disse...

Vou ser sincero... Este foi daqueles filmes que nunca percebi a mística criada à volta dele. Nunca consegui vê-lo de uma só vez, à semelhança de "2001, Odisseia no espaço".

Ainda assim anseio para poder vê-lo num grande ecrã.

À sombra da bananeira disse...

Acho que é por isso que se chamam filmes de culto. Filmes que se afastam geralmente das tendências do momento e das preferências das massas, ganhando contudo adeptos devotos em nichos específicos, por motivos frequentemente difíceis de explicar racionalmente. E claro que o culto de uns não será necessariamente o de outros porque as sensibilidades serão diferentes.

"Blade Runner" e "2001: A Space Odyssey" parecem destinados a ocupar nichos idênticos já que ambos utilizam o mundo futuro como uma alegoria, ou seja, uma representação figurativa que encerra um significado diferente do literal e cuja transliteração nem sempre é imediata (a propósito disto, é curioso notar que há quem não goste por não gostar de ficção científica e há quem não goste por achar que aquilo não corresponde ao que se espera de um filme supostamente Sci-Fi).

Curiosamente, eu demorei alguns anos a assimilar "2001: A Space Odyssey" (shiu! não contes a ninguém ;)) que é hoje um dos meus filmes de eleição. No entanto, a devoção por "Blade Runner" foi imediata. Penso que "Blade Runner" me ajudou a compreender "2001 Odisseia no Espaço".

Há um filme recente cuja analogia com os dois acima referidos é inevitável: "The Fountain" de Darren Aronofsky. Este simplesmente utiliza uma representação figurativa diferente, pelo que o processo de transliteração também o será.

Gostar ou não gostar tem obviamente a ver com a sensibilidade individual às diferentes estéticas figurativas, às temáticas que lhes estão subjacentes ou então em encontrar uma relação entre ambas.


Para terminar, mesmo não sendo fã de "Blade Runner", a qualidade técnica justifica plenamente o visionamento num grande ecrã.

Cumprimentos e obrigada pela visita.